Crianças e adultos fazendo arte. Essa é a proposta desta coluna.
Por que arteirar?
“A tecnologia é encantadora”, concluí eu um dia desses ao observar por alguns momentos um grupo de crianças rodeando alegremente a mesa em que uma delas brincava com um tablet.
E é. Quantos mistérios e possibilidades estarão ocultos naquela tela preta, ao passo que ao olhar uma bola ou um peão adivinhamos imediatamente seu potencial? Uma boneca é um brinquedo comum, mas se ela fala passa a ser algo mágico. E quanto mais o brinquedo foge a nossa compreensão concreta, mais encantados ficamos por ele, crianças e adultos, e é assim que enchemos o ambiente dos pequenos com objetos que andam, piscam, emitem sons e muitas vezes até brincam sozinhos.
Não podemos ignorar a presença ou mesmo a importância desse tipo de objeto no nosso cotidiano, mas em contraponto ouço um sem-fim de adultos entre 30 e 40 anos numa ode nostálgica aos elementos simples da própria infância como argumento central para defini-la como “de verdade”.
Qualquer busca rápida na internet nos leva a diversas filosofias em que “a felicidade está nas coisas simples”, o que me leva há tempos a alguns questionamentos: Será que perdemos algo?
O que faz de uma infância com recursos limitados um período significativo? O que podemos fazer para reavivar este significado num momento em que somos praticamente sugados por tantas tecnologias encantadoras?
A resposta definitiva não é algo que eu tenha a pretensão de atingir, mas através de observações, memórias e reflexões mapeei dois pontos importantes para uma infância (ou vida) significativa: convívio e produção.
O convívio é um ponto óbvio, se formos pensar que nossas melhores lembranças costumam ser de momentos que foram partilhados com alguém.
A produção é mais sutil e não tem relação com um conceito industrial, mas refere-se à compreensão do mundo a partir das nossas estruturas cerebrais.
Por mais que façamos investimentos em desenvolver um pensamento abstrato, as estruturas mais primitivas (e primordiais) do nosso cérebro não têm efetiva compreensão do que é mantido num âmbito virtual, de modo que tudo o que é produzido num dispositivo eletrônico causa a sensação inconsciente de inexistência a partir do momento em que este é desligado.
Esta ausência de evidências físicas de produtividade tende a causar estresse e depressão até mesmo em adultos e pode ser devastadora para crianças, que fundamentam seu pensamento no mundo concreto.
Esta coluna não tem como objetivo provocar uma revolução nas relações entre pais e filhos, mas propor atividades que através de uma produção artesanal promovam momentos de convívio de qualidade entre o adulto e a criança, de modo a criar uma lembrança significativa. Serão atividades interessantes de propor à criança após a realização das tarefas escolares, num dia de chuva, para dedicar a uma pessoa especial, para incentivar suas habilidades motoras e criativas, para decorar o ambiente, enfim, para ajudar a preencher momentos com afeto. Espero que gostem!